TEMAS

terça-feira, 31 de agosto de 2010

PEDRO MACIEL-PROMESSA DE NOVOS AMANHECERES

Escrito em agosto 29, 2010 6:13 PM, por Amigo de Montaigne

Blog www.amigodemontaigne.com.br


Já não é de hoje que expresso a minha admiração pelo escritor mineiro Pedro Maciel. Autor de A hora dos náufragos (Bertrand, 2006) e de Como deixei de ser Deus (Topbooks, 2009), acaba de lançar o seu inclassificável livro Retornar com os pássaros (Leya). Colagem coerente de aforismos, máximas e versos líricos, a inclassificabilidade do gênero tem aí o seu ponto forte. Em meio ao marasmo editorial brasileiro e mundial, consequência do dito "pós-modernismo", Pedro Maciel traz frescor e revitaliza o nosso olhar, o nosso sentir. Tal qual um Pascal dos trópicos, brinda-nos com o seguinte pensée: "Penso em não morrer aqui, sentado, esperando por um facho de luz ou por uma ideia brilhante. Penso em não morrer por hoje. Penso em não morrer. Não é a primeira vez que penso em não morrer. A pior coisa de todas é morrer logo; a segunda pior é simplesmente morrer um dia". Há momentos de grande lirismo, que eu ousaria em classificar de hilstianos - quanta falta me faz Hilda!, mas logo a enxergo na estante, à direita, entre amigos: "(...); não te esqueças de mim quando não encontrar palavras para nomear as coisas indeterminadas e sem-nome, não se deslumbre com a luz artifcial dos palcos da vida, ouça o rumor do vaivém dos seus descaminhos, não atenda se o passado ligar fora de hora, esqueça o passado por um instante". Manoel de Barros arquetípico que vive em todos nós, Pedro Maciel vaticina: "O tempo e o habitat são fundamentais para a sobrevivência dos pássaros. Quem não é ave, não deve acampar-se sobre abismos.Pode-se reconhecer aves selvagens ou domésticas através do voo ou da voz. Basta observar os pássaros a cantar nos arbustos, o voo dos insetos diversos, os vermes a rastejarem pela terra úmida, e refletir que essas formas elaboradamente construídas, tão diferentes entre si e tão dependentes umas das outras de modo imensamente complexo, foram todas produzidas por leis que atuam à nossa volta". Constituído por 72 pensamentos, a capa de Retornar com os pássaros se equivoca: onde se lê "romance", leia-se "inclassificável: novos amanheceres possíveis".

Nenhum comentário: