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sábado, 24 de julho de 2010

CARTA A UM ESCRITOR

2010/07/23


Estimado Pedro Maciel:


A Vida em muitas oportunidades se faz de rogada. Às vezes, é possível que nos veja como seus brinquedos prediletos. A Humanidade anda ao sabor dos acontecimentos mais singulares, e vai aos tropeções pelo poderio da evolução.
Seres especiais existem, sim, porém pequeno é o seu número. Esses se galgam patamares mais elevados em suas comunidades, não sobem aos sabores das gentilezas, do apadrinhamento e da sorte. Levantam-se e se alam as alturas pelas forças de suas próprias asas.
Um escritor, a qualquer tempo e a cada canto do planeta, sempre foi um ser avassalado por emoções singulares. Sendo um iniciante, claudica sua confiança, duvida de seu valor, desconfia de sua própria obra. Ele não sabe, quiçá, que está sendo usado pela Vida e pelo Destino, mas as circunstâncias pode-se dizer é como o raio: jamais cai em um mesmo lugar. Daí, a um determinado momento, ele se acha em um labirinto e em outro em uma planície, onde a escolha de caminhos não pode e não deve ser aleatória. Ele escolhe o seu trajeto, fixa-se totalmente nele e escreve, e escreve, e escreve. Alcança a maturidade e se lança a outros horizontes. Ainda assim, sofre diante às indiferenças dos técnicos das casas editoriais; depende de um revisor, de um layoutista e de arte-finalista, de um planejador, de um crítico sério e de um editor disposto a jogar alto em seu trabalho de anos, às vezes. Anelando ou não, as portas se vão abrindo lentamente, e do outro lado o espera aquilo que você chama de “sagração”. À hora de aflição natural não existe mais. Você se construiu sobre alicerce sólido. Sossega seu entusiasmo numa autocrítica necessária. Prevê o final do trajeto sabendo que esse trajeto se consolidou. Você é um vencedor, e sabe e conhece que essa é a sua missão sobre a face da Terra. Não duvida mais, não há tempo para essas comezinhas preocupações. Urge a criação não sofrer solução de continuidade. Há um contrato entre o artista e a Arte, entre o escritor e a editora e entre todos esses e os leitores. E como em um “Happy End” de sonhos realizados, você já não retornará com os pássaros, mas singrará os pastos verdejantes à direção ao Olimpo. Fez por merecer, e ainda que se aventem outras hipóteses nem uma só delas abrigará insinuações malévolas. Uma mão amiga aqui, outra acolá, é sempre de bom alvitre, por que não? Não se pode nem se deve ser uma ilha, mas um arquipélago vicejante de vida.
Em “Terra dos Homens” de Exupéry, Guillaumet resume todo o seu ato heróico e sobre-humano, ao se livrar dos abismos gélidos dos Andes, com uma pequena frase: “O que eu fiz palavra que nem um bicho, só um homem, era capaz de fazer”.
Assim são os escritores, sob o meu ponto de vista: só eles são capazes de recriar a Vida partindo de um ponto – um dos elementos das dimensões – para traçar linhas e emoções. Sucesso a você e saúde a nós. Abraços.

Morani

Um comentário:

Rivaldo R. Ribeiro disse...

Meu amigo Morani essa carta poderia ser endereçada a muita gente que sonha ou sonhou com a arte de escrever.

Eu já tentei desenvolver alguma história, mas nao foi longe, acho que minha vocação é outra.

Principalmente porque nunca fui um bom aluno em Portugues, conseguia passar de ano...Apenas.

Quanto a você, se mostra dono de uma inteligência admirável. Vá em frente, e use esse talento que Deus te deu...